terça-feira, dezembro 30, 2008

Necessidade de mudança

Não querendo entrar em clichets natalícios, onde abundam a paz, a benevolência, a partilha, e muitas outras coisas das quais a maior parte só se recorda uma ou duas vezes por ano. Gostaria, que reflectissem sobre alguns factos que de tão presentes, nos habituámos a ignorar.
O paradigma actual, aquele que permite esta resignação, é aquele que permite igualmente que a maior parte da riqueza do mundo esteja concentrada em meia dúzia. É aquele que permite que alguns, à nascença, estejam já condenados enquanto outros, pelo contrário, pouco necessitem de fazer para que a vida lhes corra de feição. É aquele que previligia os que mais têm sobre os mais pobres. É aquele que premeia os causadores de uma crise económica à escala mundial, que prejudicará sobretudo aqueles que não sabem sequer o que a economia é. É aquele que permite que uns sejam promovidos socialmente por fazerem "ajuda humanitária", quando por mais que esta aumente em quantidade e qualidade, o número daqueles que desta necessitam continua a aumentar indiscriminadamente .
Vale a pena continuar a apostar neste paradigma?
Alguns de vós dirão, talvez, que nenhum outro paradigma revelou tanto sucesso na solução dos mais básicos problemas mundiais, será...?
Outros dirão que o que falta é moral. Sem dúvida, mas que moral!? A apregoada por aqueles que descobrimos agora terem andado anos e anos a pilhar corruptamennte com o único propósito do auto-enriquecimento? (falo, evidentemente, dos senhores da "obra", daqueles que fundaram e mandaram no BCP durante anos e anos).
Se há dias em que o simples soar das folhas agitadas pelo vento me faz respirar a beleza que a cada dia me surpreende, outros há em que a humanidade consegue distorcer o que é belo de tal forma, que pouco mais há a fazer para além de esconder-me com vergonha.
Quantos mais anos continuaremos resignados?
Teremos nós vontade de mudar?

2 comentários:

Anónimo disse...

A tua mensagem fez-me lembrar um grande poema de Valter Hugo Mãe.

"eu e o bruno somos dois
facínoras e queremos ser animais selvagens e
ferrar sem piedade, eu e o bruno
só somos diferentes ligeiramente,
por isso julgamos o mesmo do
mundo e estamos dispostos a
irritar as regras antigas do desafio
biológico. temos corpos nano-aperfeiçoados,
delicados para as vistas, artilhados para a,
demanda das austeras necessidades
da contemporalidade. e somos do
mais contemporâneo que há. sabemos
muito sobre o essencial de cada coisa, que
é sempre o mesmo, e ganhamos facilmente
por atentarmos apenas no essencial. queremos
ser animais exactos, deslumbrantes, cor-de-rosa ou
laranja, talvez hipopótamos com asas na
cabeça ou gnus sorrindo, mas sólidos, pesados
sobre a terra como sobre as ideias mais extensas,
a persegui-las obstinadamente. para dois
facínoras como nós, todas as coisas parecem
largamente aquém da imaginação. andamos
preocupados com o aquecimento global do
planeta e sabemos o que dizem sobre
a morte de três quartos da população
mundial nos próximos cinquenta anos, mas
isso pouco importa, parecemos sozinhos de
todo o modo, solteiros, sem ninguém, mas isso
pouco importa, e se pudéssemos, correríamos
à dentada três quartos da população mundial
para os calabouços do inferno, sem pretexto
climatérico, nem pudor perante as criancinhas,
as mulheres ou os velhinhos, era corrê-los a
todos até que restassem apenas as
pessoas seduzidas com subir às arvores para
incentivarem os frutos a nascerem e as que
colocam as mãos no chão sem
medo de criarem raízes. eu e o bruno
olhamos para as paisagens como dois
antipáticos implacáveis. criticamos cada
coisa até se cansarem da nossa conversa e
rogamos pragas a quem exasperado nos
abandona. dizemos, vão-se embora, enfiem-se
debaixo dos lençóis e criem penas de avestruz na
corola do buraco do cu. sentamo-nos
ao pé das águas dos rios escuros e
ferramos a quem nos pergunta se vamos
pescar. arrancamos braços inteiros, por vezes,
à força dos dentes, o bruno mais, que tem uma
dentição branca superiormente saudável e pode
desferir golpes de maior violência e até com
encantadora precisão.

a mariana costa desenha os animais que
queremos ser porque entendeu tudo
sobre o recôndito segredo do universo.
nos seus olhos incrivelmente azuis
reflecte melhor do que o céu as
proféticas aventuras do humano. eu
vou aproximar o meu corpo gravemente ao
dela e sei que do choque espiritual me
nascerá o exército de filhos com que
infestaremos os espaços de uma beleza
pura, desorganizada por ser genuína, intensa,
capaz de explicar aos ímpios a necessidade de
seguirem para o inferno e permitirem a sobrevivência
de todos os peixes. e eles seguirão por seu
próprio pé e iniciativa e deixarão caminho
para que subsistam apenas corações férteis e
desavergonhados no exercício do amor. eu e
o bruno corremos atrás da mariana como
cães obedientes e vamos latir ou uivar em cada
pôr-do-sol para receber os dentes nos sonhos de
todas as noites. é assim o amor,
uma entrega sem hesitação perante o acentuado
do abismo

e salvaremos o mundo com estas convicções nada
pacíficas. porque daqui a pouco tempo perderemos
dois terços da população só pela inércia e
antes disso é preciso preparar todos os
animais para a travessia até um tempo melhor

a boca dos insectos já nos beija, rapidamente
inteligente e respiradora, e é assim o
amor, sem limites perante a vida"

valter Hugo mãe, in bruno

Hipercubo disse...

:)

Sejamos todos animais selvagens...