domingo, novembro 30, 2008

No tempo da "Inocência Ditadura"!

Quem é que não ouviu falar do caso Calabote do final da década de 50? Do árbitro que deu 10 minutos de descontos com o intuito de ver o Benfica marcar o 8º golo, o do título? Do árbitro que marcou num jogo com 8 golos, 5 penaltys para os da casa?

Pois é, trago-vos hoje meus amigos uma prenda: os artigos dos principais jornais desportivos (gentilmente cedidos por um amigo) relativos ao jogo apitado pelo senhor "Inocêncio Calabote", que acabou por ditar o 2º lugar no campeonato para o Benfica, tendo o título ficado na posse dos azuis e brancos que venceram no mesmo dia em Torres Novas, os locais por 3-0, tendo acabado o jogo contra 9 (1º homem do conjunto de Torres Novas foi expulso aos 20min da 2ª parte e o segundo depois do 2º golo do Porto, imagine-se, por pontapear a bola de dentro da baliza) e sobretudo debaixo de veementes protestos dos jogadores locais! Jogo apitado pelo senhor Francisco Guiomar que de Inocêncio não tinha nada!
-----a Bola-----

---Manual Desportivo---

-----Record-----


terça-feira, novembro 25, 2008


Akahige de Akira Kurosawa (1965)
Género: Drama

A viagem deste post cinéfilo semanal (e desculpem o atraso) é até à decada de 60, a uma pequena localidade do Japão rural. Leva-nos à história de um jovem médico recém-licenciado, consumido pela prepotência, vaidade e individualismo, próprios da sua formação urbana centrada na patologia. Este, contra a sua vontade, é destacado para o hospital de uma localidade do interior do Japão, humilde e de parcos recursos.


Chegado ao hospital, fica sob responsabilidade do dr. Niide, conhecido por Barba Ruiva (Akahige) pela peculiar cor da sua barba. Este, quando o perscruta, apercebe-se de algo de misterioso no jovem médico e interessa-se por ele, apesar de todo o desprezo inicial. A partir daí, a narrativa vai evoluir centrando-se fundamentalmente na condição e sofrimento humanos, em várias pequenas e intrigantes histórias de vida de vários doentes e personagens que vão surgindo no hospital, retrato de vidas assentes numa miséria extrema. Existe um certo feeling Dostoievskiano ao longo da película. Akira Kurosawa conferiu ao filme um humanismo abrangente e tangível, romantizando o idealismo do sofrimento humano como uma causa preponderante para a doença e morte.

O jovem médico vai percorrendo todas estas histórias unindo-se cada vez mais ao sofrimento e miséria daquele povo, base de partida para uma profunda transformação interior. Resta saber se este humanismo o marcará de tal forma que abdique de todas as suas ambições, pessoais e materiais, para abraçar a verdadeira felicidade que há tão pouco acabou por descobrir - o amor infinito ao próximo. Um filme notável que especialmente todos os estudantes de medicina deveriam ver.

"The pain and loneliness of death frighten me. But Dr. Niide looks at it differently. He looks into their hearts as well as their bodies."

sexta-feira, novembro 21, 2008

Férias meus Amigos

Pois é está "tudo" acabado.. depois de tantas horas, dias, semanas, meses e mesmo anos confortavelmente recostados em muitas cadeiras, paredes, camas e até poltronas, vimos por este meio declarar o fim da linha para o massacre!

Como tal é hora de fazer as malas para as tão desejadas férias pré-internato.

Aqui fica a sugestão da agência de Viagens "Bámos lá ber & É preciso ber":



terça-feira, novembro 18, 2008



Melhor série de todos os tempos?


Acabei há uns dias de ver a série que muitos referem como sendo a melhor de sempre. 82 prémios, incluindo 5 globos de ouro, e 211 nomeações falam quase por si só. O que tem esta série de tão especial?

Primeiro que tudo, o seu realismo. A acção desenrola-se tal e qual como se fosse um documentário de uma família, com as suas rotinas, os seus bons momentos, os maus momentos... Tudo isto cria no espectador a ilusão de ser mais um elemento da história. À medida que a série avança, vamos assistindo ao evoluir de várias personagens, o crescimento de uns, o aparecimento de outros e a morte de vários (e morrem muitos personagens importantes). Um enredo em que as acções podem ou não ter consequências, tal como a vida real - imprevisível. A história não se centra apenas na perspectiva temática da máfia italo-americana. Esta é a base, o ponto de partida para um estudo profundo às dilacerantes repercussões interiores vividas pelos seus intervenientes, especialmente o personagem principal, Tony Soprano.


Ah, Tony Soprano! Este é, a meu ver, um dos personagens mais ricos e intrigantes da história da televisão. Um personagem que vive intensamente para duas famílias - a mulher e os seus filhos, e a máfia. Um criminoso rude, implacável, que apesar de tudo cativa pela sua aparente justeza humana, o seu charme e simpatia. A sua perdição pelo sexo feminino. James Gandolfini foi brilhante e convincente na interpretação do personagem. O palco principal da série é, verdadeiramente, o gabinete onde se reúne com a sua psiquiatra, praticamente todos os episódios. Aí, invocado e dissecado pela sua psiquiatra ao longo de dezenas e dezenas de episódios, o seu subconsciente emerge: a sua relação atribulada e infeliz com a mãe, certos marcantes eventos da sua infância, a sua depressão crónica, os seus ataques de pânico, os seus perturbadores pesadelos (ao longo da série são retratados vários) - um caos de arame farpado mental que explica, muitas vezes, as suas acções precipitadas. Mas outros personagens tão peculiares como marcantes vão entrecruzando o seu caminho, como a mãe de Tony Soprano, Ralf Cifaretto, Paulie Gualtieri ou Junior Soprano. 

A série é tão e somente, muito além de uma história de gangs ou da máfia, uma celebração da vida, a vida com os seus múltiplos problemas e escolhas difíceis, com as suas dramáticas consequências... Muitas vezes não nos resta mais do que optar entre um mal e um mal menor. Cabe a cada um reflectir e decidir, no fim, se Tony Soprano é um herói, vilão ou vítima do sistema implacável que o fabricou. Tudo pode acontecer, e o final da série, controverso e aparentemente desprovido de nexo, é, no seu simbologismo, tão original como aterrador e marcante, valorizando a inteligência de toda a série, como uma cereja no topo de um bolo - Sopranos.

"O criminoso usa a perspicácia para justificar actos hediondos. A terapia tem potencial para não-criminosos. Para os criminosos, torna-se mais uma operação criminosa" in A Personalidade Criminosa, Samuel Yochelson (Psiquiatra Americano).

domingo, novembro 16, 2008

Notáveis da 7ª arte apresentam...

Inland Empire de David Lynch (2006)
Género: Mistério / Drama / Crime / Terror


Desta vez, trago-vos mais um filme de David Lynch, "Inland Empire". Este é o seu derradeiro filme. Totalmente filmado em câmara digital, este é o filme que Lynch sempre ambicionou fazer, sob um ponto de vista artístico. É, talvez, o filme mais bizarro do realizador, ultrapassando mesmo "Mulholland Drive". A sua mensagem e linha condutora parecem indecifráveis e constituem um dos maiores desafios à actual elite cultural cinematográfica. Na verdade, poderá mesmo suceder o filme não possuir um fio condutor ou uma explicação lógica global, por si mesmo.

Poder-se-á dizer que o filme é, nos seus momentos iniciais, uma narrativa que expõe a sua história de base - um "remake" de um filme polaco que nunca fora acabado, por certos eventos estranhos em seu redor que levaram à morte dos dois protagonistas. O restante, o grosso do filme, um autêntico pesadelo caótico parecendo surgir das trevas de uma mente esquizofrénica. A acção parece não obedecer a um princípio racional. Nikki, a heroina do filme, parece cada vez mais afundada numa maldição hipnótica e a sua realidade cada vez mais fundida com a da personagem que encarna no "remake" polaco, com as consequências tenebrosas que isso implica. Passado e futuro, realidade e ficção, são misturados num caos sucessivo de cenas aparentemente desconexas e variadas, que a levam a viver episódios do próprio filme polaco, do filme que encarna, e da sua realidade cada vez mais confusa e apoteótica, elicitando todos os seus demónios interiores. Muitos pequenos detalhes conspícuos relacionam as cenas umas com as outras. Diálogos estranhos, pernonagens estranhos e enigmáticos e ambientes surreais e perturbadores sucedem-se num tumulto caótico à medida que a intriga avança.


O segredo está em não procurar encontrar uma explicação lógica para todos os pormenores. O filme é pura e simplesmente um grande pesadelo, e que pesadelo! Todos os elementos do subconsciente perturbado da personagem emergem numa catarse de sentimentos, sejam eles de terror, raiva, medo, sofrimento ou contemplação. O filme passa por todos eles de forma exímia, muito graças ao talento da actriz Laura Dern, absolutamente versátil e eficaz na interpretação das sucessivas e variadas dimensões da sua personagem, tornando tudo esmagadoramente verdadeiro, apesar de estranho e impossível.

Ao nível da realização, a utilização de câmara digital conferiu a Lynch a liberdade e originalidade de utilizar maioritariamente planos pouco usuais. A focagem das personagens muito próxima da cara, no limite de focagem, torna tudo mais próximo e intenso, exponenciando o surrealismo do filme. Por outro lado, a portabilidade da câmara digital possibilitou o seguimento muito próximo de certos gestos aparentemente não importantes para as cenas, mas que aumentam a tensão do momento, como se lá estivéssemos, absortos nesses gestos banais como encher uma chávena de café, como um mecanismo de escape perante a estranheza de tudo o que se está a passar.


Obviamente que o filme não será para todos, tal como um quadro de Picasso não poderá ser perceptível por todos. Este é um filme que não obedece a regras, é pura e simplesmente um esgar de génio e liberdade artística. Como referiu Gustavo Marquês Van Prog "é bom saber ainda existirem realizadores que se preocupam em trazer algo de novo, de diferente". Mais que preso a uma simples história, este filme encarna a arte cinematográfica como uma pintura abstracta, base para uma experiência incalculável sob domínios e sentimentos superiores.

"Como vento a ecoar nos túneis da mente"

terça-feira, novembro 11, 2008

Clássicos da 7ª arte presents...

Stalker de Andrei Tarkovsky (1979)
Género: Aventura / Mistério / Drama / Ficção Científica


Este é um daqueles filmes raros, geniais, capazes de elicitar em nós sensações nunca antes experienciadas. Muitos apelidam Tarkovsky de profético, por este idealizar os cenários fantasmagóricos e decrépitos da zona em redor do desastre de Chernobyl, 10 anos após o filme. O filme centra a sua narrativa na "Zone", tal como seria apelidada a área consumida pelo desastre nuclear, uma zona inóspita nos confins da União Soviética, maldita pelo Homem, encerrada por arame farpado e dispositivos militares, onde parecem ocorrer fenómenos fora do alcance de uma explicação lógica, após a suposta queda de um meteorito.


Dentro de todo o mistério e horror que a "Zone" encerra, existe o "Stalker", aquele que atingiu, inexplicavelmente, o notável feito de regressar da área maldita, após nela ter entrado por diversas vezes - o único homem que a "Zone" parece querer poupar. Para este, a Zona é seu derradeiro local na Terra de paz interior, bem distante da miséria e sofrimento que o atinge na cidade onde vive - verdadeiro aforismo às condições sub-humanas vividas pelo povo russo. Apesar da sua decadência e aspecto sinistro, a Zona é o seu paraíso metafórico. Tarkovsky fora absolutamente brilhante em traduzir ao espectador, visualmente, o impacto interior que os dois locais lhe provocam. O propósito da vida do Stalker transformou-se em revelar a sua descoberta interior a outros homens, escolhidos por ele. Os que sente que estão preparados para o sentir. Esta não é apenas uma viagem no seu sentido literal estrito, física. É bem mais que isso. É uma autêntica jornada interior, reflexiva, um local interiormente idílico que serve de base à sua filosofia fascinante - a evolução da condição Humana.


Por todo o lado corre a crença que quem o acompanha na sua regular viagem parece conseguir realizar um desejo. Desta feita, a sua escolha recai em dois personagens intelectuais: um famoso escritor, cínico, que alega ter perdido toda a sua inspiração; e um físico, pragmático, que parece dar mais valor à moxila que carrega do que à viagem em si. Ao longo da trama vai-se atingindo o verdadeiro propósito que os levou a encetar esta perigosa viagem, através de sucessivas discussões verdadeiramente inteligentes entre dois intelectuais de áreas tão distintas, bem como, no final do filme, se estarão mentalmente preparados para uma decisão esmagadora que os iria mudar para sempre.


"Que acreditem! Que riam das suas paixões.
Porque o que consideram paixão,
Na realidade não é energia espiritual
Mas sim fricção entre a alma e o mundo externo
(...)
Quando o Homem nasce, é fraco e flexível
Quando morre, é duro e insensível
Quando uma árvore cresce, é tenra e pliável
Mas, quando seca e dura, morre
Dureza e força são os companheiros da morte.
A flexibilidade e a fraqueza são a frescura do ser.
Por isso, quem endurece, nunca vencerá."

"Sim, sou um piolho.
Nada fiz neste mundo, nem nada posso fazer.
Nem à minha mulher dei nada.
Não tenho amigos. (...)
Privaram-me de tudo lá, além do arame farpado.
Tudo o que tenho está aqui! Compreende?
Aqui na Zona!
A felicidade, a liberdade, a dignidade, tudo está aqui!"


Veredicto: 10/10

quarta-feira, novembro 05, 2008


Que exemplo para todos nós! Porque o seu idealismo, a nobreza das suas convicções, venceram todas as barreiras, todos os obstáculos. 

E assim assistimos ao corolar de um homem que realizou esse notável feito - o de vencer tudo e todos - com a força arrasadora e irresistível das suas palavras. Começando mesmo no seio do seu próprio partido, e terminando num país onde, tantas vezes, a diferença, sobretudo a diferença racial, é pautada com o ódio e o desprezo. Pudesse Martin Luther King ter assistido a este dia histórico, o dia em que os valores mais nobres, os direitos civis, a liberdade, se impuseram sobre o ódio e a guerra.

Parabéns Barack Obama. 
O Universo festeja de alegria.


Entretanto, muito longe, no rancho do John McCain....


Numa outra galáxia, José Sócrates sofre com as consequências para Portugal...

domingo, novembro 02, 2008

Clássicos da 7ª arte presents...

2001: Odisseia no Espaço de Stanley Kubrick (1968)
Género: Ficção Científica/Thriller/Mistério/Aventura



Este épico da ficção científica, realizado maravilhosamente por Stanley Kubrick, acabou por se tornar uma das maiores lendas de sempre da história do cinema. Tomando por base a evolução do Homem, desde o evento inicial até a um futuro longínquo da exploração espacial, Kubrick apresenta as duas perspectivas da evolução temporal humana elicitando os seus pontos comuns.

A utilização de cenas lânguidas, fotográficas, que acabam por constituir verdadeiras metáforas visuais, tornam a experiência de visualização um constante acto reflexivo, reforçado ainda pelo uso recorrente de peças sinfónicas, de conotação sinistra, operática ou espectacular (Strauss). Por outro lado, Kubrick foi exemplar na recriação do vazio sonoro do espaço, bem como da respiração ressonante do astronauta no seu fato espacial, tornando as longas cenas no espaço asfixiantes e assustadoramente realistas. Tudo isto assume uma notabilidade exímia, sobretudo se pensarmos que o filme fora feito antes sequer do Homem pisar a Lua, e de ainda hoje se manter incrivelmente actual e, em alguns aspectos mesmo, surpreendente.



As cenas são meticulosamente orquestradas para transmitir mensagens de cariz filosófico, desde a dicotomia da inteligência humana e inteligência artificial (sendo o computador HAL um dos mais perturbadores personagens da inteligência artificial alguma vez feitos, sem pensar ainda no quão influente e marcante terá sido na história do cinema), a existência de civilizações extraterrestres e a problemática da influência superior no curso evolutivo humano.

Por todas estas razões, é fácil de perceber o quão substancial é esta película. Todos deveriam ter a oportunidade de admirá-la pelo menos uma vez na vida.

Veredicto: 10/10