terça-feira, novembro 11, 2008

Clássicos da 7ª arte presents...

Stalker de Andrei Tarkovsky (1979)
Género: Aventura / Mistério / Drama / Ficção Científica


Este é um daqueles filmes raros, geniais, capazes de elicitar em nós sensações nunca antes experienciadas. Muitos apelidam Tarkovsky de profético, por este idealizar os cenários fantasmagóricos e decrépitos da zona em redor do desastre de Chernobyl, 10 anos após o filme. O filme centra a sua narrativa na "Zone", tal como seria apelidada a área consumida pelo desastre nuclear, uma zona inóspita nos confins da União Soviética, maldita pelo Homem, encerrada por arame farpado e dispositivos militares, onde parecem ocorrer fenómenos fora do alcance de uma explicação lógica, após a suposta queda de um meteorito.


Dentro de todo o mistério e horror que a "Zone" encerra, existe o "Stalker", aquele que atingiu, inexplicavelmente, o notável feito de regressar da área maldita, após nela ter entrado por diversas vezes - o único homem que a "Zone" parece querer poupar. Para este, a Zona é seu derradeiro local na Terra de paz interior, bem distante da miséria e sofrimento que o atinge na cidade onde vive - verdadeiro aforismo às condições sub-humanas vividas pelo povo russo. Apesar da sua decadência e aspecto sinistro, a Zona é o seu paraíso metafórico. Tarkovsky fora absolutamente brilhante em traduzir ao espectador, visualmente, o impacto interior que os dois locais lhe provocam. O propósito da vida do Stalker transformou-se em revelar a sua descoberta interior a outros homens, escolhidos por ele. Os que sente que estão preparados para o sentir. Esta não é apenas uma viagem no seu sentido literal estrito, física. É bem mais que isso. É uma autêntica jornada interior, reflexiva, um local interiormente idílico que serve de base à sua filosofia fascinante - a evolução da condição Humana.


Por todo o lado corre a crença que quem o acompanha na sua regular viagem parece conseguir realizar um desejo. Desta feita, a sua escolha recai em dois personagens intelectuais: um famoso escritor, cínico, que alega ter perdido toda a sua inspiração; e um físico, pragmático, que parece dar mais valor à moxila que carrega do que à viagem em si. Ao longo da trama vai-se atingindo o verdadeiro propósito que os levou a encetar esta perigosa viagem, através de sucessivas discussões verdadeiramente inteligentes entre dois intelectuais de áreas tão distintas, bem como, no final do filme, se estarão mentalmente preparados para uma decisão esmagadora que os iria mudar para sempre.


"Que acreditem! Que riam das suas paixões.
Porque o que consideram paixão,
Na realidade não é energia espiritual
Mas sim fricção entre a alma e o mundo externo
(...)
Quando o Homem nasce, é fraco e flexível
Quando morre, é duro e insensível
Quando uma árvore cresce, é tenra e pliável
Mas, quando seca e dura, morre
Dureza e força são os companheiros da morte.
A flexibilidade e a fraqueza são a frescura do ser.
Por isso, quem endurece, nunca vencerá."

"Sim, sou um piolho.
Nada fiz neste mundo, nem nada posso fazer.
Nem à minha mulher dei nada.
Não tenho amigos. (...)
Privaram-me de tudo lá, além do arame farpado.
Tudo o que tenho está aqui! Compreende?
Aqui na Zona!
A felicidade, a liberdade, a dignidade, tudo está aqui!"


Veredicto: 10/10

1 comentário:

Hipercubo disse...

Um filme que aconselho vivamente a todos, mas que admito que não é para qualquer um...

Proponho aqui já, como aliás já propus ao Nimpo, iniciarmos já em Janeiro ciclos de cinema seguidos de discussão em local a decidir..

Mais pormenores aqui no Blog para breve..