terça-feira, abril 17, 2007

Porcupine Tree "Fear of a Blank Planet" 9/10

Existe musica. E existe musica com substância. Musica que, de sentimento em sentimento, toca-nos na alma, nem que subtilmente. Musica para ser amada. Arte. Quantos artistas podemos dizer, 18 anos após, continuarem a ter sensibilidade para construir, uma após outra, autênticas odes ao sentimento humano. E assim, não se trata de musica imediata. É preciso tempo para pensar, compreender, é preciso um compromisso atento, uma vontade forte para tentar perceber a sua beleza inconspícua. Este album é um dos mais coesos e intensos que os Porcupine Tree já fizeram, fluindo, de movimento em movimento, numa épica viagem de 50 minutos de introspecção e libertação.

Miudo de 10 anos. “The pills that I've been taking confuse me”. “Pills” para o vazio. Futilidade. Efémero. Todo o tipo de "drogas" que nos parecem tirar a humanidade, quase nos fazendo esquecer que o mais belo não é o que é visto, mas sim o que é sentido. E desta maneira a primeira faixa evolui, num registo rock energético e arrasador, fazendo lembrar a 1ª faixa do album anterior: revolta-climax-paz, com algumas pinçadelas psicadélicas de piano pelo meio. Mas o álbum evolui a seguir para um sentimento diferente do globalmente nostálgico, melancólico e quase romântico do seu precedente. Violinos transportam “My Ashes”, uma doce balada quase acústica, para um nível etéreo, elevada ainda pela compreensão, do personagem, de que parte de si está vazio “And my ashes find a way beyond the fog, and return to save the child that I forgot...”. E de seguida o pico artístico do álbum. Todo o sentimento mais subtil, todo o poder mais vigorante do rock, unidos numa única música. Anesthetize. Refrões memoráveis, riffs impressionantes (com algum toque de post-metal), atmosferas sublimes, cascatas de vozes celestiais e até etéreos momentos zen, todos combinados e elevados por momentos marcantes como “You were stolen... there's black across the Sun...”. E acaba. Aterrador, só 17 minutos? A próxima, “Sentimental”. “Sentimental” é o momento para chorar. Todas as emoções evocadas anteriormente explodem no piano e guitarras de sonho desta faixa, à medida que Wilson canta “I've wasted my life... I'm hurting inside...”. Sem excessos ou dramatismos. Apenas sentimento, tal qual como ele é. Tempo para recuperar do abalo não se encontra em “Way Out of Here”, outra música comovente, com algumas explosões de raiva, movida pelas suas atmosferas perturbadoras, a sua linha de baixo marcante, e o delicioso e original solo de guitarra. Por fim, “Sleep Together”. Classe. A banda reinventou-se novamente. Fizeram o que parecia impossível. Fundir às atmosferas mais bizarras e psicóticas do electrónico industrial o sinfónico mais majestoso e orquestral. O album acaba numa explosão catártica de violinos. Somos literalmente desintegrados em partículas! Viajamos pelo infinito do cosmos! “Let's leave forever!”. Partir para sempre. Para sempre deste, muitas vezes, local desumano chamado Terra.

E assim o album acaba. Estamos chocados. Queremos mais. E de seguida pomos o album do início. Para o saborear. Estarmos atentos aos pormenores que nos escaparam. Sentir, chorar e partir novamente. Como se estivessemos num intenso e lindo sonho. Um sonho de nos libertamos desta “blank society”, onde cada vez mais se assiste à aterradora indiferença ao apontar uma arma, ao causar sofrimento, ao tirar a vida de outrem. Vidas regidas pela destruição.


Esta obra é no fundo uma única música de 50 minutos, dividida em 6 movimentos. Estes movimentos parecem obedecer quase perfeitamente à sequência de Freud da reacção humana ao choque: negação/raiva -> consciencialização -> depressão -> motivação para mudar -> libertação. Este entendimento transforma a percepção do álbum numa intensa e perturbadora viagem ao ego de um miudo estereotipado.

E assim, o álbum acaba por ser um manifesto ao anti-vazio que contamina a sociedade. Steven Wilson tem o poder de tocar nas pessoas. Todos os álbum da banda têm o seu sentimento peculiar. Ainda não consigo resumir em palavras o que sinto com “Fear of a Blank Planet”. Só sei que o sinto muito... Obra prima.



"Vai para além do bom, do belo ou do impressionante. Mas nem todos o irão perceber" - Rock & Metal
"A primeira compra obrigatória de 2007" - Classic Rock Magazine
"50 minutos de pura classe" - Metal Lords
"Steven Wilson evoluiu para a arte de pintar musica" - Sound and Vision
"dramático, amplo, executado com mestria e genuinamente intrigante" - Q magazine

5 comentários:

Unknown disse...

Efectivamente esta banda é uma das minhas favoritas já à alguns anos, desde que descobri o Steven Wilson por ter gravado o magnífico "Blackwater Park" dos Opeth!

Temos dito

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

http://www.sendspace.com/file/cbm0s5

(caso esteja ocupado o servidor, carreguem em actualizar sucessivamente até terem vaga)

Por favor, se gostarem do album comprem-no. Há bandas que trabalham mais pela arte em si do que em ter sucesso propriamente. E assim, merecem o nosso apoio.

Anónimo disse...

Muito bom album que me deixou com enorme vontade de conhecer mais e melhor os Porcupine Tree.
E excelente review tambem..

STP disse...

Muito bem. Obrigado pelo post. Através dele fui pesquisar os PT e confesso que abanou o meu mundo musical e psicológico.

Já sou fã. E passado um mês e pouco ainda só conheço três álbuns :)